
Estamos vivendo, hoje, as consequências de termos silenciado sobre a saúde mental por tanto tempo. O tabu em torno do tema custou caro: sobrecarga, afastamentos, ambientes tóxicos e produtividade comprometida.
E esse tabu não pode continuar. Não se trata apenas de uma pauta moderna — é uma necessidade urgente e, agora, uma exigência legal. A atualização da NR1 deixou claro: todas as empresas são obrigadas a prevenir e gerenciar riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
Ou seja, não existe mais espaço para fingir que o problema não existe, ou para tratar a saúde mental como tema secundário.
Falar sobre saúde mental: o tabu precisa acabar
Não existe prevenção de riscos psicossociais se continuar o tabu sobre saúde mental. A organização precisa:
- Tratar saúde mental como tema estratégico e não como problema do “outro”
- Remover preconceitos contra quem procura ajuda
- Incentivar conversas abertas sobre o assunto
- Reconhecer e acolher quem está passando por dificuldades
Silenciar ou estigmatizar só piora o problema. Prevenir é agir antes que o adoecimento aconteça, criando espaço seguro para o diálogo e para o cuidado.
O problema das ações isoladas
Faz parte da gestão de riscos psicossociais oferecer sessões de terapia ou canais de denúncia, por exemplo, mas nada disso resolve de verdade se a cultura organizacional não apoia a saúde mental. Muitas vezes, esses benefícios viram apenas cortina de fumaça para problemas estruturais que continuam acontecendo.
Por exemplo: de que adianta promover campanhas de saúde mental, se as pessoas continuam sendo sobrecarregadas, lideradas por chefias despreparadas ou trabalhando em ambientes marcados por medo e insegurança? A coerência entre discurso e prática é fundamental para gerar confiança e engajamento.
Como diz Amy Edmondson, pesquisadora de Harvard: “Não basta dizer que a porta está aberta; as pessoas precisam se sentir seguras para entrar”. Não adianta o RH criar canais, se ninguém sente confiança para usá-los.
O papel da cultura organizacional
A cultura organizacional é o terreno onde qualquer estratégia real prevenção de riscos psicossociais deve ser plantada. Se a cultura não sustenta o tema, qualquer alçao perde força rapidamente. Mas quando a cultura apoia, até iniciativas simples ganham profundidade e impacto real.
Como criar essa base? Por meio de ações diárias:
- A forma como líderes lidam com erros (próprios e da equipe);
- Como colaboradores são ouvidos (ou ignorados);
- Como as cargas de trabalho são definidas;
- Como acontecem os feedbacks.
Essas ações comunicam os verdadeiros valores da organização — e formam o ambiente onde os riscos psicossociais nascem ou são prevenidos.
Conclusão
Prevenção eficaz de riscos psicossociais começa (e termina) com a cultura organizacional. Como ficou claro, não adiantam ações isoladas, benefícios pontuais ou discursos de ocasião. É preciso alinhar prática e discurso, eliminar o tabu, capacitar lideranças e dar exemplo no dia a dia.
Quando a cultura é saudável, as pessoas sentem confiança para buscar ajuda, o estresse é reconhecido antes de virar crise, e o bem-estar deixa de ser exceção para se tornar regra. Mais do que nunca, prevenir é preciso — e isso se constrói de dentro para fora.
Dica importante: O caminho para construir essa nova cultura passa, necessariamente, pelo investimento em treinamentos de inteligência emocional — especialmente para líderes, mas também para toda a equipe. No próximo artigo, vamos aprofundar como colocar isso em prática e criar ambientes emocionalmente seguros e saudáveis.