O autoconhecimento está na base de qualquer psicoterapia e de várias terapias consideradas alternativas. Por definição é uma expansão de consciência do indivíduo sobre si mesmo, que ocorre a partir do contato com suas motivações e conflitos inconscientes.
Por exemplo: Um indivíduo que tem dificuldades em suas relações sociais, seja pelo isolamento deliberado ou na impulsividade que leva à emoções sem controle, e gostaria de mudar isso em si, precisará conhecer a origem que gerou esses padrões comportamentais, para que seja possível trabalhar os conflitos existentes.
Outro exemplo: Existe um indivíduo que por mais que tente alcançar um determinado objetivo de vida, sempre falha, por mais que se prepare ou se esforce para isso. Neste caso, pode ser que exista uma crença limitante inconsciente, desenvolvida durante a sua criação ou jornada pessoal, que o impede de ter sucesso naquilo que tanta almeja, porque existe uma parte dele inconsciente, que verdadeiramente não acredita ou não quer. Neste caso, o autoconhecimento vai possibilitar a identificação desta crença limitante, para que seja possível ressignificá-la.
Ou seja, aumentar a consciência sobre si mesmo, sobre a origem de algumas dificuldades ou limitações que o próprio indivíduo já tenha percebido, é o caminho que torna possível a mudança de um comportamento indesejado, a superação de alguma limitação ou a realização de metas.
Podemos dizer que essa é a essência do autoconhecimento e, por isso, pode fazer toda a diferença para uma maior harmonia interna e consequentemente externa, nas diversas áreas da vida. E ainda, uma maior confiança e assertividade para a realização os objetivos de vida.
“O autoconhecimento coloca o indivíduo no controle de sua mente e harmoniza as diversas áreas da vida, como a profissional, financeira, familiar e amorosa.”
Consequências da falta de autoconhecimento
Ausência de autoconhecimento é o mesmo que viver em um total “piloto automático”, apenas reagindo aos estímulos externos de acordo com os conteúdos de nossa mente inconsciente, sem compreender muito bem o porquê de algumas situações e comportamentos. Neste caso, existem “consequências” inevitáveis que precisam ser observadas:
1 – Baixa inteligência emocional – Constante estado de ansiedade e estresse
A ausência de inteligência emocional pode resultar em reações diferentes, de acordo com a situação, como não conseguir se apresentar em público, explodir de raiva facilmente quando contrariado, fugir de conflitos ou desafios inevitáveis, não conseguir manter o foco durante uma atividade de “pressão”, esquecer o texto por causa do nervosismo e etc.
Goleman, criador deste conceito, definiu inteligência emocional como:
“…capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.”
(Goleman, 1998)
Para ele, a inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos.
2 – Baixa inteligência interpessoal – Constantes conflitos nos relacionamentos
A vivência de relacionamentos saudáveis é a chave para uma vida equilibrada, feliz e próspera. Somos seres sociais, dotados de diversas necessidades sociais, como afetividade, reconhecimento, validação, inclusão, atenção e muitos outros. Que quando nos faltam, nos deixam extremamente carentes.
Na vida profissional, uma boa inteligência interpessoal é extremamente valorizada em qualquer segmento profissional, pois a ausência dela, resulta em inconvenientes conflitos nos relacionamentos profissionais.
Em outras palavras nós literalmente dependemos dos relacionamentos para sermos prósperos, saudáveis e felizes.
3 – Transtornos de ansiedade
Estão entre os principais males da humanidade na atualidade. Não confunda estar ansioso, com um transtorno de ansiedade, que são conceitos bem diferentes.
Podemos ficar ansiosos antes de uma aula, ou reunião, mas dentro de um limite normal e controlável. Porém os transtornos de ansiedade estão em outro nível e em sua base está a falta de autoconhecimento. Por isso, quando alguém é diagnosticado com algum transtorno de ansiedade, depois de medicá-lo o psiquiatra o encaminha para uma terapia cognitivo comportamental, que na essência é um processo de autoconhecimento.
A ansiedade exagerada é um dos mais perigosos estados emocionais negativos, podendo levar a diversos outras emoções e estados como raiva, impaciência e agressividade, altamente prejudicial às relações sociais. Além disso, o descontrole da ansiedade leva aos transtornos de ansiedade. Existem 5 tipos, sendo eles:
- Ansiedade Generalizada: Preocupação exagerada e fantasiosa diante de situações normais da vida, como profissão, saúde e desafios que surgem no cotidiano;
- Fobias: Medo irracional perante um objeto, ser ou situação, que verdadeiramente não representa perigo;
- Síndrome do Pânico: Ataques de pânico inesperados sem uma causa clara ou aparente;
- Perturbação Obsessivo-Compulsiva: Formação de ideias, pensamentos, sentimentos, cenas e impulsos, considerados inapropriados, que o invadem a mente do indivíduo, que se sente incapaz de controlar, provocando assim o ataque de ansiedade;
- Síndrome de Pós-Stress Traumático: Surgimento de um ataque de ansiedade após um acontecimento considerado extremamente estressante e traumático.
4 – Ciclos negativos repetitivos (Autossabotagens) – Frustração nos objetivos de vida e da felicidade
Se você acha que pode, ou que não pode fazer alguma coisa, você tem sempre razão.
(Henry Ford)
A autossabotagem é a tendência a colocar travas, limites e complicações em si mesmo durante o caminho em direção a metas ou objetivos. Se você olhar para trás, talvez encontre vários exemplos de situações onde, sem saber por que nem como, você fracassou no caminho em direção a sua meta. Uma das possíveis explicações deste fracasso é a autossabotagem.
Existe a autossabotagem mais básica, como não ir à academia, ou cuidar da saúde, e aquelas mais relevantes, relacionadas a projetos de vida, como cursar uma faculdade ou uma pós-graduação, se casar, ter filhos e etc.
Por medo dos riscos e das responsabilidades da vida, podemos sabotar inconscientemente com as nossas realizações. São atitudes forjadas por uma parte de nós que não nos vê como merecedores do sucesso ou que subestima nossa capacidade de lidar com a vitória.
A autossabotagem funciona como um peixe que morde o próprio rabo: como não me permito a oportunidade, não desafio a mim mesmo e, portanto, não me desenvolvo. Então, perco a oportunidade de ganhar novas capacidades e melhorar aquelas que já possuo. E por isso, continuo pensando que “não posso”, “não quero” ou “não dá certo comigo”.
E a privação pode se estender a conquistas mais relevantes. Por exemplo, quem não acredita ter permissão para ser feliz, quando obtém algo positivo, imediatamente faz alguma coisa para perdê-lo. Se arruma um namorado, o trata mal para que ele vá embora, se consegue um bom trabalho, não cumpre o horário para justificar uma demissão. Tudo de maneira inconsciente é claro, porque a crença limitante normalmente é inconsciente
Uma autossabotagem pode ser tão intensa que gera efeitos como aquela espinha que apareceu no nariz no dia do encontro especial, ou da gripe que chegou na véspera daquela importante reunião. Esse comportamento pode ser tão grave ao ponto de provocar obesidade, depressão, cardiopatias, transtornos de ansiedade, pensamentos suicidas, diabetes e, em casos mais graves a automutilação, que é quando a pessoa cria flagelos físicos em si mesma para se punir e liquidar com o sucesso e a felicidade em todos os planos da vida.
“Muitos desses comportamentos destrutivos estão quase fora do domínio da consciência”, afirma o psicólogo americano Stanley Rosner, coautor do livro O Ciclo da Auto-Sabotagem – Por Que Repetimos Atitudes que Destroem Nossos Relacionamentos e Nos Fazem Sofrer (ed. BestSeller).
“A autonomia, a independência e o sucesso são apavorantes para algumas pessoas porque indicam que elas não poderão mais argumentar que suas necessidades precisam ser protegidas”, diz o autor.
A origem da autossabotagem pode estar lá atrás, na infância, no núcleo familiar, que é onde adquirimos referências e construímos nossa base de percepção e atuação no mundo, incluindo traumas, assimilação de traços da personalidade de quem convivemos, sentimentos de abandono, rejeição, culpa, entre outros anseios.
Então em geral só é possível entender a autossabotagem, quando avaliamos nossa trajetória e relações familiares. E neste caso, é fundamental ter coragem de olhar para essa trajetória e todos os dramas vividos no passado.
A maioria das pessoas relata chegar ao fim da sua vida, sem ter realizado os seus projetos e sonhos, e o autoconhecimento é um sério caminho para que você não seja uma dessas pessoas. A aprender a valorizar o que já foi conquistado e estar aberto para conquistar mais, especialmente os estados interiores de paz, equilíbrio e alegria, além dos relacionamentos saudáveis, que nos suprem de afeto, amor e felicidade.
5 – Falta de autenticidade e espontaneidade
Um indivíduo que ainda não se conhece no nível de sua essência tende a utilizar “máscaras psicológicas negativas“, que no mais profundo visam passar uma imagem irreal sobre si mesmo, para enganar-se sobre sua real condição. Os resultados podem ser diversos, mas o principal deles é o deterioramento dos relacionamentos em todas as áreas, além de um forte autoengano, que impossibilita o indivíduo de alcançar o que almeja, mantendo-o na zona de conforto.
O que pode ser trabalhado em um processo de autoconhecimento?
Autossabotagens: Comportamentos conscientes ou subconscientes que sabotam atividades ou objetivos que são reconhecidamente importantes para o indivíduo.
Crenças limitantes/negativas: Conceitos ou ideias congeladas na mente subconsciente ou inconsciente, que levam a comportamentos autodestrutivos. Esses tipos de crenças formam a base das autossabotagens.
Carências patológicas: Forte fixação por uma das necessidades sociais, provavelmente criada na fase infantil, como: afeto, atenção, validação, reconhecimento, inclusão e aceitação, por exemplo.
Áreas da vida em conflito: Para que seja possível alcançar uma vida mais harmônica é fundamental ter uma ideia mais clara de quais áreas da nossa vida precisam de atenção especial, e qual a atual situação dessas áreas.
Conclusão
Como é possível perceber, o autoconhecimento está na base da saúde mental e estabilidade emocional, pois se o indivíduo de fato não conhece a origem de seus comportamentos, seus dramas, seus talentos, limitações e outros aspectos fundamentais, ele se torna uma “marionete” em relação aos seus impulsos automáticos e ações do próprio ego. Ou seja, um indivíduo com um baixo nível de autoconhecimento de fato não está no controle total de sua mente, pois apenas reage de acordo com os estímulos internos e externos, sem compreender muito bem os motivos de tudo o que está ocorrendo.
Para quem desenvolveu um bom nível de autoconhecimento, dotado de disposição para resolver o que percebe de “negativo” e aprimorar o “positivo” em si mesmo, é uma questão de tempo para se alcançar uma vida verdadeiramente harmônica, feliz e repleta de sucesso em diversas áreas da vida.
Texto: Júlio César de Castro Ferreira